Quem sou eu

Nada mais sou do que uma jornalista pernambucana, em busca de experiências e boas histórias para contar.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Moda étnica faz o estilo da mulher nordestina

A arte nordestina sempre esteve marcada pela forte presença de materiais rústicos e naturais como matérias-primas. Agora é a vez de a moda incorporar essa característica e trazer à tona as tendências étnicas ao jeito de vestir das mulheres da região.

A designer de moda Rebeca Bentes tem transformado couro, palha, madeira, pedras brasileiras, ouro, prata e sementes nas principais fontes de inspiração para seu trabalho. “Para mim, o rústico é também sofisticado. É valioso”, conta.

Rebeca mal começou, e logo fez sucesso. Segundo ela, tudo surgiu de um simples desejo pessoal de criar seus próprios acessórios. Hoje a designer é dona de uma página na web - o site www.rebecabentes.com - onde expõem e comercializa os objetos de sua marca.


O rústico e o natural viram matérias-primas no trabalho de Rebeca Bentes.

Com a chegada das festas de fim de ano, a mulherada fica preocupada com o que vestir. Então fomos consultar Rebeca sobre as dicas de moda para o Natal e para o Révellion.

Segundo a designer, a
aposta está nas saias rodadas acinturadas, com blusas justas, ou nos vestidos tipo coquetel, na altura do joelho. E quem quer um look mais à vontade, uma boa opção é o decote tomara-que-caia. Esses modelos devem vir acompanhados de colares curtos, com volume. Além disso, quem preferir cinturas marcadas, pode abusar, sem medo, dos cintos finos.


Colares curtos e volumosos, e cintos finos são dicas da designer.

Quanto às cores, Rebeca sugere as fortes como azul cobalto, pink, preto, coral e estampas alegres em tecidos nobres.


Postado por Mateus Araújo, colaborador.

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

No verão, Maracaípe não é só sol e mar... História e aventura também!

Tudo começa com a maré baixa

Seguindo o rastro do mar e o som das ondas da praia de Maracaípe, partimos para refazer o caminho da história perdido entre os segredos da natureza. A praia, que em tupi guarani, significa rio que canta, por conta do som provocado pela pancada da água na vegetação do mangue, tem cravada em seu passado os grilhões do tráfico de escravos.

Quando foi decretada no Brasil, em 1850, a lei Eusébio de Queirós que proibia o tráfico de escravos no país, os traficantes abriram duas trilhas. Uma para ser usada na maré baixa, outra com o mar cheio. Refazer o caminho de cerca de cento e cinquenta anos requer disposição, espírito de aventura e coragem para encarar as surpresas da natureza.

Os negros desembarcavam no Pontal de Maracaípe e seguiam com os feitores por dentro do manguezal. A fartura e o tipo da flora, explica porque esse foi o caminho escolhido pelos contrabandistas. Para os aventureiros e curiosos do hoje proteger-se do sol e dos mosquitos é fundamental.

Para os desavisados a fauna exuberante pode dar medo e andar na lama parece mesmo tarefa só para caranguejo. Além dos traficantes o caminho também era usado por outros habitantes. Como os jesuítas que aproveitavam a maré cheia para batizar os índios Caetés que povoavam a região. Hoje os que querem apenas um contato mais íntimo com a natureza e a história recolhem os restos dos que não sabem contemplar sem degradar.


Igreja do Outeiro

Depois de andarmos meio quilômetro pelas vielas do mangue, entramos no caminho da mata atlântica. Até a Igreja do Outeiro, local onde os atravessadores aguardavam os negros, mais um quilômetro e meio.

As folhas secas tomam conta da trilha. O esconderijo perfeito para cobras também é o alimento da mata. E ela presenteia o homem com cactos, bromélias, árvores, frutos e folhas exóticas. Do alto da igreja, avistamos o Pontal de Maracaípe, a Ilha de Santo Aleixo e Porto de Galinhas.


Banho refrescante

Chega a hora de descer e conhecer a segunda trilha utilizada pelos traficantes quando a maré estava alta. Fazemos o caminho inverso dos escravos. Primeiro avistamos e percorremos toda a exuberância da mata atlântica, no chamado Túnel dos Escravos. Depois nos refrescamos no Banho das Serpentes. Lugar onde os navios atracavam e os negros eram desembarcados.


De volta pra casa

O caminho de volta só existe um. Pelo meio do mangue e nesse momento com a maré cheia. Uma aventura e tanto para os que não se preocupam em ver onde e em que estão pisando.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Nordeste Mais concorre a prêmios


Carnaval em Nazaré da Mata


Carnaval com os Papangus


Carnaval com os caretas


Turismo de Fé em Cimbres (Pesqueira)


A repórter Manuela Leimig em Bonito


Reportagem na cachoeira de Bonito


O Programa Nordeste Mais, revista eletrônica produzida e exibida por todas emissoras afiliadas ao SBT na região Nordeste, está concorrendo com três reportagens na 2ª edição do Prêmio Mestre Salustiano de Turismo, na categoria audiovisual.

As matérias inscritas foram produzidas pela TV Jornal Recife e feitas pela apresentadora e repórter do Programa Manuela Leimig, com produção de Verônica Rodrigues e Luciana Cláudia.


Os vt's abordam os seguintes temas:

1º - A diversidade do carnaval pernambucano com um passeio pelas cidades
de Triunfo (Caretas), Bezerros (Papangus) e Nazaré da Mata(Maracatu Rural);
- Visita ao Santuário de Cimbres em Pesqueira (turismo de fé);
3º - Reportagem na cidade das águas, Bonito, que teve uma de suas cachoeiras eleita como uma das Sete Maravilhas Pernabucanas.


(Informação já comentada na matéria "revista eletrônica regional concorre a prêmio",do Blog de Jamildo)


terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Até as rochas choram

A 930 metros acima do nível do mar a natureza chora... de felicidade. Flores, folhas e musgos brotam das rochas e decoram a via de acesso que leva ao encontro das águas de Bonito. O município distante, 130 quilômetros do Recife, é conhecido como cidade das águas. Os bonitenses são privilegiados, mas por algum motivo pouco desfrutam da magia e beleza do lugar.


Segundo o guia Genival da Silva, a grande responsável pelas 12 quedas d'água é a nascente do rio Vedinho. É difícil de acreditar que de um volume tão pequeno, porém constante, possa nascer um grandioso cenário refrescante e convidativo.




Calçado e roupa apropriados, hora de se aventurar em meio às trilhas cercada pela mata atlântica. Todas as cachoeiras ficam em propriedades privadas. A taxa de visitação varia entre 1 e 3 reais.

A primeira parada é exuberante. Não por acaso a cachoeira Barra Azul foi eleita um das sete maravilhas de Pernambuco.



Se o lugar encanta os que já o conhecem, quem dirá os que o visitam pela primeira vez.



Das 12
cachoeiras, só é possível chegar a sete. Algumas, como a do Mágico, com estrutura de camping, é apoio para os aventureiros.

Um pedacinho do paraíso em PE




CINCO QUILÔMETROS PARADISÍACOS. SEM DUVIDA ESTA É A MELHOR FORMA DE DESCREVER A PRAIA DOS CARNEIROS, NO LITORAL SUL DE PERNAMBUCO. CENÁRIO QUE MAIS PARECE PRODUZIDO PARA UM FILME HOLLYODIANO, MAS QUE É REAL E PERMANECE PRESERVADO POR CONTA DAS CONDIÇÕES GEOGRÁFICAS.



A PRAIA ESTÁ LOCALIZADA EM UM ISTMO, QUE É UMA PORÇÃO DE TERRA ESTREITA CERCADA POR ÁGUA NOS DOIS LADOS, NO CASO DE CARNEIROS PELO RIO FORMOSO E O MAR. DIFERENTE DE UMA ILHA, O ISTMO TEM ACESSO A OUTRA EXTENSÃO DE TERRA.




DECORADA PELO ESTUÁRIO DO RIO FORMOSO E POR UM PAREDÃO DE ARRECIFES COM UM QUILÔMETRO DE EXTENSÃO CARNEIROS OFERECE AO VISITANTE PISCINAS NATURAIS E BANCOS DE AREIA COM UM COLORIDO INIGUALÁVEL. PARA DESFRUTAR DE TODA ESSA BELEZA O IDEAL É EMBARCAR EM UM CATAMARÃ.

DURANTE O PASSEIO AVISTAMOS A IGREJA DE SÃO BENEDITO PRATICAMENTE DENTRO DA ÁGUA. PERCORRENDO O RIO FORMOSO UMA PARADA PARA CUIDAR DA PELE. DIZ A HISTÓRIA QUE A ARGILA DA PRAIA DE GUADALUPE GARANTE REJUVENESCIMENTO DE DEZ ANOS. A CRENÇA DOS TURISTAS É, NO MÍNIMO, ENGRAÇADA.

A PRÓXIMA PARADA UM PONTO GEOGRÁFICO E HISTÓRICO INTERESSANTE.
O ENCONTRO DOS RIOS FORMOSO, ARINQUINDÁ E MARIAÇU. NO ALTO O CRUZEIRO LEMBRA A BATALHA DO REDUTO ENTRE PORTUGUESES E HOLANDESES EM 1633. OS NATIVOS SÃO TÃO ENCANTADORES QUANTO O LUGAR E NÃO ESCONDEM A PAIXÃO POR CARNEIROS.




DEPOIS DE UM POR DO SOL COMO ESSE, ENTENDEMOS PORQUE TANTO APEGO A TERRA NATAL.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

O sabor de ser um veterano (veterana)

Para muitos um reencontro com bons e velhos amigos, para outros um reencontro consigo mesmo, para todos um novo encontro com o atleta que existe dentro de cada um.

Desabrochar, farrar, encontros, desencontros, surpresas, conquistas, decepções, retomada de um tempo que passou, mas nunca se foi. Intimidade, principalmente com ela, a bola. Objeto que nos une, nos encanta, faz com que viremos bicho na quadra contra o adversário e, também, com nossos próprios companheiros.

E, na quadra, lembranças vão e vêm. A cabeça manda, o corpo já não obedece. Mas os velhos e novos companheiros estão lá, na torcida... São o sexto jogador (fora o técnico, é claro) que nos empurra, irrita o adversário, nos enche de autoestima e confiança.

O propósito, o objetivo coletivo é único: não deixar de ser atleta. Os individuais... hum, esses são tantos. Desde os mais singelos aos mais complexos (que diga nossas atletas-doutoras da "mente" Juliana e Neide).

Superar dores, matar a carência dos amigos, curtir um pouco mais a vida, esquecer que o tempo é inexorável, reencontrar alguém que perdemos sem querer nas curvas da vida, mostrar para nós mesmos que estamos vivos... Bom cada um tem o seu(s) motivo(s) a mais.

Para mim, um marco. Um recomeço em muitos aspectos. Mais uma oportunidade que a vida me deu de aprender um pouco mais. Sempre acreditei que atleta não tem idade (atleta, e não peladeiro), é tudo igual... 30+, 40+, 50+...


Não importa. Estamos sempre torcendo e zelando um pelo outro. Afinal de contas, sabemos a dor de uma derrota, o medo de uma lesão, o gosto de uma vitória. Compartilhamos sentimentos e emoções iguais que só o esporte pode ensinar de forma coletiva.


Acredito que em algum lugar desse texto nos vemos. Que esse sentimento não morra, não se dilua... Obrigada por receber as 30+.
Caia, Tereza e Ju...sem vocês eu não poderia escrever, nem sentir isso agora, muito menos reencontrar o carinho de Bianca, a afinidade com Adayla, a alegria de Titão, o companherismo de Americana, a admiração por Fátima, a tagarelice (na boa, viu?) de Sídia, nem conhecer a guerreira Edmary.

Também não reencontraria meus doces e maravilhosos técnicos Carmé (para quem não sabe fui dama de honra dela) e Seu Pezão; nem meus ídolos Patrícia Paula e Ricardão.


Obrigada também por permitirem grudar como um preguiça (é o meu jeito mesmo) em Eneida, Mione, Tia Bel, Mano, Seu Pinto, Otávio, Isabel, Portuga...e tantos outros.


Valeu, contem comigo!

Beijos,

Manu



(Texto publicado dia 3 de dezembro, no Blog de Jamildo)

domingo, 6 de dezembro de 2009

Uma volta pela "Croa" ou Coroa do Avião


Ela não tem porte de ilha, mas também não é apenas um simples banco de areia. O nome correto para a formação é crôa, que no passar do tempo, na boca do povo, virou coroa.

Em meados de 1950 um monomotor da Força Aérea Brasileira fez um pouso forçado na tal coroa. O avião ficou enterrado na areia e foi preciso desmontar o aparelho para levá-lo ao recife. A partir daí o lugar ganhou o nome de Cora do Avião.

A ilhota da Coroa do Avião pertence ao município de Igarassu. A travessia até lá só é possível de barco ou jangada e é feita, principalmente, a partir do Forte Orange, na ilha de Itamaracá. A dica é esticar a travessia e curtir as surpresas guardadas no Canal de Santa Cruz.

Às margens da chamada Vila Velha, primeiro núcleo habitacional de Itamaracá, banhistas encontram águas mornas e cristalinas.

As marcas da história resistem ao homem, mas com interferências da modernidade. No antigo forno da vila eram queimadas as pedras calcárias, que misturadas ao óleo de baleia formavam a argamassa do passado usada nas antigas construções.

O manguezal abre as portas para as pequenas embarcações. Nos estreitos corredores d’água, fauna e flora, em harmonia, desenham a paisagem.

Na chegada ao destino fica claro porque a Coroa do Avião foi eleita em 2007 uma das sete maravilhas de Pernambuco. Com 500 metros de extensão e cem de largura a ilhota conta com infra-estrutura para receber visitantes de todo o país em busca de diversão.

Um pequeno reduto capaz de proporcionar grandes e simples prazeres, como, por exemplo, o de ficar de pernas pro ar.


Um outro ângulo do litoral sul pernambucano










O litoral sul de Pernambuco tem 110 quilômetros de extensão e 28 praias. Algumas famosas pela história; como o cabo de santo agostinho, outras pela intervenção humana caso da praia de Suape e o porto de mesmo nome. A maioria delas conhecida em todo o Brasil por suas belezas naturais. Como muro alto, porto de galinhas e Maracaípe.

E que tal conhecer todas essas praias por um outro ângulo? Embarcamos em um monomotor Cesna 172 de 49 anos de idade para um vôo panorâmico por essas praias. a aeronave só comporta quatro pessoas, tem autonomia de quatro horas e meia de vôo e pertence a única empresa pernambucana de táxi aéreo liberada pela ANAC para fazer vôo panorâmico de avião. O jovem comandante comenta a reação dos passageiros quando dão de cara com o pequenino Cesna é de medo e desconfiança, mas ele garante que o pequenino é mais do que seguro.


Voamos a uma altitude de 150 metros. A princípio a tensão e o medo são os principais companheiros do voo, mas à medida que as praias aparecem por um ângulo totalmente diferente a surpresa e o deslumbramento tomam conta do passeio. Um privilégio para poucos que deve ficar muito bem guardado na memória. Belezas que se misturam e se completam em um grande espetáculo da natureza. E, segundo a empresária e dona da empresa, o voo já virou uma febre entre aqueles que querem presentear esposas, namorados, pais e mães.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

História de Nova Jerusálem vira livro

Está em processo de produção “a história de uma paixão”, o livro que vai narrar a trajetória da cidade-teatro de Nova Jerusalém, construída há 41 anos pelo teatrólogo Plínio Pacheco, no agreste de Pernambuco.


A obra é de autoria do ator e estudante de jornalismo André Lombardi, que faz parte do elenco de Nova Jerusalém desde 1997, e se dedica à pesquisa sobre a história do teatro há nove anos. “Tenho um acervo de mais de quatrocentas fotos, quinze programas (de divulgação) e vários cartazes dos espetáculos”, conta André, que também já está atrás de patrocinadores para a publicação.


“É um livro-reportagem que vai trazer uma abordagem mais focada na Nova Jerusalém, através de depoimentos, relatos de momentos marcantes e um pouco da minha coleção – para ilustrar ainda melhor -, assim é uma forma de preservar essa história tão grandiosa”, resume Lombardi, confiante no resultado do trabalho que deverá ser publicado no próximo ano, durante a semana do espetáculo da Paixão de Cristo.



Temporada 2010 – Os espetáculos da temporada 2010 da Paixão de Cristo de Nova Jerusalém acontecerão de 26 de Março a 03 de Abril, e têm, até agora, apenas o ator Eriberto Leão confirmado no elenco. Ele interpretará Jesus Cristo.


Postado por Mateus Araújo, colaborador.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Nos caminhos da crença Severina

Uma das coisas que mais me chamam atenção nos sertanejos é a fé entranhada nos seus valores e costumes. E se tem um lugar que melhor represente a religiosidade sertaneja é o Juazeiro do Norte, no Ceará. Terra onde viveu e morreu Padre Cícero Romão, o “santo do sertão”.

Desde que comecei a escrever para o “Somos Muitos Severinos”, sempre tive vontade de relatar minhas observações sobre essa fé. E assim eu estou fazendo.

Eu não sabia por onde começar essa matéria – que tanto custou para ser escrita. Só sabia que, se era pra começar, antes de tudo eu teria de viajar. Não perdi tempo. Arrumei minhas coisas e parti rumo ao Cariri, na minha “romaria-informativa”.


Saí de Recife numa quarta-feira, às 6h. O sol já me acompanhara, aliás, o sol foi minha (dura) companhia durante todos esses dias. No chacoalhar do caminho já comecei a rabiscar os primeiros resquícios desta matéria. As primeiras frases que se desenrolavam no meu caderninho eram, na verdade, reclamações sobre as péssimas condições do asfalto em alguns trechos da viagem, tanto no território pernambucano quanto no cearense. Aqui estão reclamadas!

Mas, buracos à parte, seguimos, seguimos, seguimos... Paramos! Almoçamos. Seguimos, seguimos, seguimos...

Da janela do carro eu observava as cidades, os distritos e as vilas por onde passávamos. Umas, grandes, desenvolvidas; outras, pobres, esquecidas. Mas eram exatamente as casinhas abandonadas ao nada, nos mais distantes e inimagináveis lugares, os alvos das aflições. Discutíamos – eu e minhas companhias de viagem – como sobreviviam aquelas pessoas que ali moravam. “Quando sente uma dor, como esse povo é socorrido?!”, retrucava um. “Apelam para Deus”, respondia outro.

Ah, a fé! Sempre a fé. Talvez seja ela que realmente dê forças àquelas pessoas abandonadas, esquecidas, lamentadas, mas crentes - acima de tudo!

Seguimos por mais quatro horas, e já estávamos no Ceará. A placa anunciava os caminhos. A entrada da cidade já mostra que Juazeiro não é mais um lugarejo, ou vila, ou “casinhas abandonadas ao nada, nos mais distantes e inimagináveis lugares”, como os que eu vi na estrada.

Juazeiro apresenta a modernidade e o desenvolvimento de uma grande cidade de interior. Ginásio esportivo, shopping center, faculdades particulares (inclusive de medicina), universidades públicas, supermercados, hipermercados, afiliada de rede de televisão etc.

Quando cheguei ao centro da cidade pude ver ainda melhor o desenvolvimento do lugar. Um comércio bastante “surtido” - como se diz por lá - no que se refere ao grande número de lojas dos mais variados tipos de produtos, com destaque nas vendas de joia e couro. Um formigueiro de pessoas. Gente de tudo que é lado. Tudo isso com fundo-musical religioso e publicitário disseminado pelos alto-falantes das rádios locais, colocados, estrategicamente, nos postes das ruas.

E, no meio da agitação das ruas, eis que surgem os paus-de-arara trazendo os romeiros. São dezenas desses caminhões, somados a outras dezenas de ônibus que trazem turistas de diversas partes do nordeste e do Brasil.

Sendo, então, a fé sertaneja o foco da minha matéria, foi um pau-de-arara que transformei em meu “guia” de viagem. Eu sabia que entre aquelas várias pessoas que estavam naquele caminhão, histórias interessantes surgiriam para o desenvolver do meu texto e da minha visão de mundo. Perguntei se poderia segui-los e me permitiram (com a contrapartida de que não seriam fotografados e/ou filmados - tinham vergonha). Eles estavam indo ao Horto (que recebe esse nome como referência ao Horto das Oliveiras, presente nas passagens do cristianismo), e foi para lá que eu fui!

É no Horto que estão o quadragenário Monumento do Padre Cícero e o Museu Vivo. Neste último, são reconstruídos, através de imagens de cera, em tamanho real, momentos marcantes da história do religioso, como, por exemplo, o momento em que, segundo os fiéis, a hóstia consagrada pelo Padre transformou-se em sangue na boca da Beata Maria de Araújo. O local fica a alguns poucos quilômetros do centro de Juazeiro, e é o destino obrigatório de todos os romeiros e turistas que visitam a cidade.












Durante a subida das escadarias do Horto, conversei com uma das romeiras do grupo que eu estava
acompanhado. O nome dela era, coincidentemente, Severina. Dona Severina Pereira da Silva. Uma senhora de 65 anos, moradora de Exu, Pernambuco, que , a princípio, me chamava atenção pela roupa que usava (uma espécie de hábito preto, que cobria seu corpo inteiro) naquele calor escaldante do sertão, e que continuou a chamar minha atenção pelo motivo que a levava ao Juazeiro.

Dona Severina estava ali para agradecer ao Padre Cícero pela cura do câncer de sua filha. “Minha filha ia perder o peito. Os médicos já tinham desanimado. Mas eu me ajoelhei na frente de uma imagem de ‘Padim Ciço’, que tenho em casa, e implorei pra ele me ajudar. E minha foi curada, graças a Deus!”, narra, emocionada, a romeira, que, logo ao chegar diante da estátua do Padre, se ajoelhou e deu início ao seu rosário.

Horas depois, a roma ria continuou. Nossa segunda parada foi o Pátio do Socorro, já no centro do Juazeiro . Lá ficam localizados o Memorial Padre Cícero, a Capela do Socorro (onde está enterrado o corpo do Padre) e o cemitério da cidade. É também nessa praça onde são realizados os grandes eventos religiosos da região, e, acreditem, onde fica a casa do Seu Lunga – aquele “bem-humorado”.



Mais orações, e
mais histórias. Desta vez meu entrevistado foi o agricultor Antônio Oliveira da Silva, 62, também morador de Exu. Ele estava no Juazeiro para pedir ao “Padim” que fizesse chover no sertão. “Tem mais de mês que não chove em Exu. Eu já perdi metade da plantação de milho”, conta seu Antônio.

O céu começou a escurecer. Estava na hora dos romeiros irem para a pousada deles, e eu para a minha. Agradeci pela companhia e desejei boa-viagem a eles. E a resposta foi: “Deus te abençoe”. Amém!

Logo que cheguei ao meu quarto comecei a rabiscar anotações que seriam interessantes para minha matéria. As histórias que eu havia escutado naquele dia não me afastavam a visão de sofrimento que eu tinha do povo sertanejo, mas me faziam somar a essa ideia uma verdade que encontrei nas palavras de Euclides da Cunha: “o sertanejo é, antes de tudo, um forte”. De fato. O sertanejo é antes de tudo um forte, fortalecido pela fé e pela esperança que possui.

No outro dia – último da minha viagem – fui fazer compras. Queria comprar uma imagem de Padre Cícero e trazê-la para minha casa – não foi muito difícil de achar, pois por todos os cantos havia uma. Durante a compra perguntei à jovem vendedora que me atendeu o que ela espera do futuro, e, rápida e profeticamente, veio a resposta: “O futuro a Deus pertence!”. Assim seja!

Voltei ao Recife trazendo cada imagem, cada história, cada personagem e a mesma certeza de Manuela no final de sua matéria “Câmera na mão, mochila nas costas e disposição para conhecer os vários mundos de uma mesma região”: Somos todos Severinos. Severinos salvos pela fé, pela devoção e pela esperança no que ainda está por vir. E a força do nordeste está, sem dúvida, na fé do seu povo.


Postado por Mateus Araújo, colaborador.